Teoria do Sistema Funcional de Luria

Como Alexander Romanovitch Luria formulou sua teoria?

Luria observou os modelos Localizacionista de Gall, Wernicke e Broca no qual cada área do cérebro era descrita como responsável por uma função mental específica e Unitarista de Hughlings Jackson, onde o cérebro em sua totalidade era tido como responsável por todas as funções. E Luria amplia a ideia de Anokhin (1898-1974) de Sistema Funcional, revisando os três conceitos: função, localização e sintoma e propôs, em síntese, que os dois modelos estavam certos e errados ao mesmo tempo. Então, baseou sua teoria em uma forma de sistema dinâmico, onde cada área cerebral seria responsável por uma especificidade, mas que agiriam em conjunto dinâmico e integrado em todo sistema nervoso.

Luria dá um exemplo de que assim como a função respiratória não é propriedade apenas do pulmão, mas sim do sistema respiratório inteiro, o sistema neural era um sistema funcional completo e complexo e não reduzida a poucos agrupamentos neurais específicos. A localização para Luria determina quais regiões do cérebro estrão trabalhando em conjunto para construir uma atividade mental complexa e o sintoma busca identificar o fator básico que está por trás do sintoma observado.

Luria estruturou o Sistema Nervoso Central hierarquicamente em três unidades funcionais, a primeira foi descrita como a responsável pela vigília e pelo tônus cortical que depende do tronco encefálico, onde tem uma rede neural chamada Sistema Reticular Ascendente que se comunica com a terceira unidade funcional. A segunda é a encarregada de receber, processar e armazenar as informações que chegavam do mundo externo e interno a partir dos sentidos. E a terceira unidade funcional regularia e verificaria as estratégias comportamentais e a própria atividade mental.

As 3 Leis Funcionais de Lúria

Luria também apresenta três leis que governam a estrutura de funcionamento das regiões corticais individuais.

A primeira é a lei da estrutura hierárquica que afirma que há uma síntese progressivamente mais complexa das informações que chegam. As áreas terciárias organizam a atividade das secundárias, que organizam a atividade da primária em uma rota ascendente nas crianças e descendente em adultos.

A segunda lei é a da especificidade decrescente, onde os neurônios das áreas primárias possuem uma especificidade modal muito grande que vai diminuindo nas áreas secundárias até se tornar multimodal nas áreas terciárias. Isto significa que os neurônios que estão presentes nas áreas primárias só executam atividades muito específicas e não processam informações diferentes para o que não foram designados. Já um neurônio das áreas terciárias, não só processa informações de origens diferentes, como de modais diferentes: consegue integrar estímulos auditivos com visuais, por exemplo.

A terceira lei é da lateralização progressiva das funções, aqui as áreas primárias fazem o mesmo papel nos hemisférios esquerdo (dominante), área especifica da linguagem e direito (subdominante) do cérebro, enquanto as secundárias e terceárias executam funções distintas. Os hemisférios são diferentes e desempenhem funções diversificadas, mas complementares.

Como o córtex Posterior é Organizado em seus Lobos

Seguindo estas três leis, todo córtex posterior é organizado em seus lobos da seguinte maneira:

No lobo occipital as áreas primárias recebem a informação visual do nervo óptico, criando cor, forma e movimento sendo processado e passando para o córtex secundário que percebe e forma a imagem visual que passam para as áreas terceárias que são comuns em todos os lobos.

No lobo temporal as áreas primárias são especializadas em ouvir frequências sonoras muito específicas, criando uma sensação auditiva, a área secundária une tais informações e consegue criar uma imagem auditiva e as áreas terciárias integram aos outros sistemas.

No lobo parietal as áreas primárias de cada neurônios processam áreas corporais distintas, aqui ocorre a representação corporal denominada Homúnculo de Penfield, por ter formato de um pequeno homem, que tem representações de partes humanas aumentadas. Há muito mais neurônios na área primária responsáveis em receber a estimulação destas regiões corporais do que de outras, como as costas, por exemplo. As áreas secundárias integram as informações que provém das áreas primarias, criando uma imagem tátil e novamente as áreas terciárias criam uma cognição complexa a partir destes estímulos e de outros estímulos sensoriais.

No lobo frontal o caminho é inverso, assim, a rota na terceira unidade funcional parte das áreas terciárias (intenção) para as secundárias (coordenação) para, finalmente, as primárias (movimento) que realizam o comportamento desejado.

Referências

ANDRADE, V. M.; SANTOS, F. H.; BUENO, O. F. A.Neuropsicologia Hoje. São Paulo: Artes Médicas, 2004
FUENTES, D.; MALLOY-DINIZ, L. F.; CAMARGO, C. H. P. (Orgs.) Neuropsicologia: Teoria e Prática. Porto Alegre: Artmed, 2008
GAZZANIGA, M. S.; HEATHERTON, T. F. Ciência Psicológica: Mente, Cérebro e Comportamento. Porto Alegre: Artmed, 2005
KANDEL, E. R.; SCHWARTZ, J. H.; JESSEL, T. M.Fundamentos da Neurociência do Comportamento. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 1997
LENT, R. Cem Bilhões de Neurônios: Conceitos Fundamentais de Neurociência. São Paulo: Atheneu, 2001
LURIA, A. R. Fundamentos de Neuropsicologia. Rio de Janeiro: Livros Técnicos e Científicos; São Paulo: EDUSP, 1981.

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